A Embraer intensificou sua estratégia para ampliar a presença do A-29 Super Tucano entre países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) diante da escalada de invasões de drones russos sobre o espaço aéreo europeu.
A empresa brasileira aposta na versão A-29N, adaptada aos padrões da aliança militar, como uma alternativa de baixo custo para enfrentar ameaças aéreas lentas, numerosas e cada vez mais frequentes no continente.
O movimento ocorre em um contexto de pressão crescente sobre os sistemas tradicionais de defesa aérea da Otan, projetados para interceptar caças e mísseis sofisticados, mas considerados caros e pouco eficientes contra drones simples, que custam poucos milhares de dólares.
Incidentes recentes no Leste Europeu e nos países nórdicos expuseram o desequilíbrio entre o preço do ataque e o custo da resposta militar.
A entrega dos primeiros A-29N a Portugal, em dezembro, marcou a estreia do modelo em configuração compatível com os requisitos da Otan. O país se tornou o primeiro operador europeu da aeronave e assinou com a Embraer uma carta de interesse para avaliar a instalação de uma linha de montagem final do avião em território português.
Com mais de 600 mil horas de voo acumuladas e operação em 22 forças aéreas, o Super Tucano tenta se reposicionar não apenas como uma aeronave de treinamento ou contrainsurgência, mas como uma peça complementar da defesa aérea europeia em um cenário de guerra híbrida.
A guerra na Ucrânia intensificou o uso de drones de baixo custo pela Rússia, tanto em ataques diretos quanto em ações de provocação e teste de resposta dos países da aliança.
Em setembro, a Polônia relatou a invasão de cerca de 20 drones russos em seu espaço aéreo, episódio que levou Varsóvia a acionar o Artigo 4º do Tratado da Otan, que determina consultas em caso de ameaça à segurança coletiva.
Autoridades militares europeias reconhecem que empregar os tradicionais caças F-16 e F-35 da norte-americana Lockhead Martin ou mísseis Patriot –que custam milhões de dólares por disparo– contra drones improvisados é financeiramente insustentável.
Esse desequilíbrio no custo-benefício abre espaço para soluções intermediárias, capazes de permanecer longos períodos em patrulha, operar a baixa velocidade e engajar alvos baratos com armamentos igualmente acessíveis.
É nesse nicho que a Embraer tenta posicionar o Super Tucano. A empresa anunciou, em novembro, a ampliação das capacidades do A-29 para missões de combate a sistemas aéreos não tripulados, com o uso de sensores eletro-ópticos e infravermelhos, enlaces de dados para designação de alvos e armamentos como foguetes guiados a laser e metralhadoras calibre .50.
Segundo a fabricante, a adaptação pode ser incorporada por operadores atuais e futuros da aeronave, sem a necessidade de grandes alterações estruturais ou custos elevados de integração.
“Continuamos a expandir as capacidades do A-29 para cumprir com as missões mais recentes enfrentadas por muitas nações ao redor do mundo”, disse , presidente e CEO da Embraer Defesa & Segurança.
“Os desafios contínuos na guerra moderna e os conflitos recentes em todo o mundo demonstraram a necessidade urgente de soluções para combater SANTs (Sistemas Aéreos Não Tripulados). O A-29 é a ferramenta ideal para enfrentar sistemas aéreos não tripulados de forma eficaz e de baixo custo, somando ao já extenso conjunto de missões da aeronave, que inclui apoio aéreo aproximado, reconhecimento armado, treinamento avançado e muitas outras”, declarou.
A Polônia desponta como um dos principais mercados da estratégia da Embraer no curto prazo. O país, que faz fronteira com a Ucrânia e é considerado um dos pilares do flanco oriental da Otan, avalia testar o Super Tucano a partir de 2026 para missões contra drones russos.
Em entrevista à imprensa local, o vice-comandante das Forças Armadas Polonesas, general Ireneusz Nowak, afirmou que Varsóvia estuda todas as plataformas disponíveis para enfrentar alvos lentos e de baixa altitude.
“Com certeza testaremos o Super Tucano e os analisaremos mais dettalhadamente no início de 2026. Queremos formar uma opinião sobre o assunto. A guerra moderna se baseia na criatividade e na adaptação. Portanto, estamos avaliando todas as opções disponíveis”, disse Nowak ao “Defence 24”.
A aproximação ocorre paralelamente à ampliação da presença industrial da Embraer no país, junto com a apresentação do cargueiro militar KC-390 Millennium –concorrente direto do C-130J Super Hercules, da Lockheed Martin.
Em dezembro, a empresa firmou acordos de cooperação com companhias do PGZ (Grupo Polonês de Armamentos), envolvendo manutenção, produção de componentes e cadeia de suprimentos. A Embraer estima que as parcerias podem gerar até US$ 3 bilhões para a economia polonesa em uma década.
Além da Polônia, países como Romênia, Estônia, Alemanha e Dinamarca reforçaram medidas legais e militares para lidar com drones russos, incluindo autorizações para abatimento em tempos de paz e investimentos em novos sistemas de detecção e neutralização.
Para a Embraer, Portugal ocupa um papel estratégico na consolidação do A-29N na Europa. A OGMA, controlada majoritariamente pela fabricante brasileira, já participa do programa do cargueiro KC-390 Millennium e pode se tornar o centro de montagem do Super Tucano para o mercado europeu, caso a linha seja efetivada.
A lógica é semelhante à adotada em outros programas de defesa: produção local, transferência de tecnologia e retorno industrial para os países compradores –um fator decisivo em licitações militares na Europa.



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