O dólar caminha para fechar o ano em queda contra o real. O movimento tem sido global: a moeda americana acumulava baixa em torno de 9,6% contra moedas de países desenvolvidos e se desvalorizava cerca de 10,5% em relação ao real no ano até esta sexta-feira (26).
Segundo os estrategistas do Itaú Unibanco, o cenário externo deve continuar ditando o movimento de desvalorização da moeda – mesmo com as eleições presidenciais no Brasil em 2026, que têm gerado ruídos no mercado neste fim de ano.
“De forma geral, o mundo dita mais o rumo [do dólar] no Brasil do que a eleição”, afirmou Nicholas McCarthy, diretor global de estratégia de investimentos do Itaú Unibanco, em entrevista a jornalistas no último dia 17.
“As eleições causam muito ruído, mas não mudam tendência. Óbvio que podemos ter realização de lucros com volatilidade, mas se houver queda mundial do dólar, aqui também acontecerá.”
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O Itaú avalia que o dólar entrou em 2025 em uma tendência de baixa que não se via há pelo menos quinze anos nos mercados globais. É um movimento de longo prazo, que pode durar de oito a nove anos nos cálculos de Gina Baccelli, estrategista sênior de investimentos do banco.
“A moeda americana ainda está em um nível extremamente valorizado. Acredito que ainda há espaço para desvalorização, mas não sabemos quando. Ex-post se vê claramente uma tendência, que no dia a dia é mais difícil de identificar", disse Baccelli na mesma entrevista.
O catalisador para a queda do dólar é o governo do americano Donald Trump, que deixou investidores mais receosos com a moeda diante de políticas comerciais e fiscais incertas no último ano.
O resultado foi uma busca entre gestores de todo o mundo por diversificação, que tende a continuar em 2026 na avaliação dos estrategistas, beneficiando moedas como o real.
A tendência de longo prazo não significa, no entanto, que o caminho está livre de solavancos. O dólar ganhou fôlego contra o real em dezembro e já sobe 2% no mês reagindo a expectativas eleitorais.
Os principais movimentos de apreciação vieram após ruídos sobre quem será o candidato da direita a enfrentar o atual presidente Lula em 2026.
O dólar subiu 2,3% em uma única sessão após o anúncio de Flávio Bolsonaro de que seria o candidato indicado pelo pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão por planejar um golpe de estado após sua derrota nas urnas em 2022.
Nesta sexta-feira (26), a moeda americana subia 0,53%, a R$ 5,55, por volta das 15h30 (no horáriode Brasília) depois que o ex-presidente divulgou uma carta reforçando o seu apoio à pré-candidatura de Flávio.
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À exceção dos Estados Unidos, o movimento de enfraquecimento do dólar beneficia todos os países, e é especialmente relevante para as economias emergentes, que observam alívio na inflação e têm maior possibilidade de entrar em um ciclo de crédito positivo, com juros mais baixos.
Os estrategistas do Itaú observam que a tendência do câmbio terá papel relevante na condução da política econômica após as eleições. “O cenário internacional vai fazer muita diferença para qualquer um que assuma a presidência em 2027”, disse Baccelli.
A estrategista lembrou ainda que os últimos 10 anos de desafios macroeconômicos do Brasil coincidiram com o período de valorização da moeda, o que potencializa os desafios internos do país.
“País emergente vai muito bem em período de dólar fraco, e quando está se valorizando é o desafio muito grande que vimos nos últimos 10 anos. Muito da crise do governo Dilma está relacionada à alta global do dólar”, disse.
A expectativa é que o arrefecimento da inflação propiciado pelo câmbio continue também a abrir os caminhos para cortes na taxa básica de juros brasileira, a Selic, atualmente em 15% ao ano – seu maior patamar em uma década.
Com a redução esperada dos juros, a expectativa é de um bom ano também para a renda variável, estendendo os ganhos de 32% já acumulados este ano pelo Ibovespa. “Se esse cenário de inflação e juros se mantiver para os próximos dois anos, provavelmente a bolsa será o melhor ativo [em termos de retorno]”, afirmou McCarthy.
A recomendação de alocação estratégica do Itaú em bolsa brasileira é de 8%, mas o banco avalia elevar esse percentual para perto de 9,5% no próximo ano.
A reformulação das carteiras recomendadas para 2026 também irá diminuir a exposição a ativos dos Estados Unidos, tanto em renda fixa quanto em renda variável. “Será uma inovação: faz muito tempo que não temos renda fixa fora dos EUA [nas carteiras]”, completou.
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