O mercado de criptomoedas enfrenta um período turbulento nesta semana, com Bitcoin (BTC) caindo quase 4% e testando níveis críticos de suporte, enquanto a capitalização total do mercado cripto despenca abaixo de US$ 3 trilhões pela terceira vez em dezembro de 2025.
Na manhã de 16 de dezembro, o Bitcoin foi cotado em R$ 469.176,10, revertendo ganhos recentes e se aproximando perigosamente dos mínimos do ano em torno de US$ 74.400, registrados em abril após o anúncio das tarifas comerciais do presidente Donald Trump.
O Ethereum (ETH) e outras criptomoedas como XRP também recuam significativamente, contribuindo para a pressão generalizada no mercado. O Bitcoin negocia próximo à média móvel simples de 100 semanas, um nível de suporte crítico para investidores altistas. Dados da Strategy já indicam rompimento desse patamar, sinalizando possível continuação da queda.
Analistas da Bloomberg alertam que o Bitcoin está em rota para seu quarto ano consecutivo de queda, refletindo um cenário macroeconômico desafiador e volatilidade persistente nos mercados financeiros globais.
O cenário internacional afeta diretamente a economia brasileira. A Ibovespa caiu 2,42% para 158.578 pontos, abaixo da marca psicológica de 160 mil pontos, refletindo indefinição sobre a política de juros no Brasil e no exterior.
O dólar comercial subiu 0,73% para R$ 5,462, acumulando alta de 2,38% apenas em dezembro, embora apresente queda de 11,62% no acumulado do ano. A pressão cambial é impulsionada por remessas de lucros de empresas estrangeiras e incerteza sobre a trajetória da taxa Selic.
O Banco Central mantém a taxa Selic em 15% ao ano, o maior patamar desde 2006, sem sinais de corte próximo. Essa postura restritiva visa conter a inflação, mas desacelera o crescimento econômico. O PIB enfraquecido e o consumo familiar em desaceleração refletem o impacto dessa política monetária apertada.
A economia da América Latina e do Caribe deverá crescer apenas 2,4% em 2025, com o Brasil em 2,5%, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Essa fraqueza na demanda interna, combinada com volatilidade comercial, reduz as perspectivas para 2026.
A tensão geopolítica entre EUA, China e Rússia está redesenhando a economia global. A China controla 60% da extração global de terras raras (17 elementos essenciais para microchips, baterias, veículos elétricos e satélites) e mais de 90% do processamento mundial.
Essa dependência crítica coloca os EUA em posição vulnerável. Quase 700 medicamentos americanos dependem de insumos chineses, enquanto a China avança rapidamente em autossuficiência em microprocessadores através de seu 15º Plano Quinquenal (2026-2030).
Analistas da Bloomberg recomendam que os EUA abandonem a tentativa de “derrotar” a China, dada a superioridade chinesa em quase todos os setores estratégicos, incluindo comércio internacional, produção de armamentos e modernização naval.
A nova Estratégia de Segurança Nacional de Trump, anunciada em 4 de dezembro de 2025, prioriza o Hemisfério Ocidental sobre Europa e Ásia. O presidente impõe metas de 5% do PIB em gastos militares à OTAN, aumentando importações americanas, enquanto marginaliza europeus em negociações sobre Ucrânia.
Trump busca acordos pragmáticos com a China baseados em “respeito mútuo” e com a Rússia focados em estabilidade via petróleo e minerais. Essa reorientação geopolítica tem implicações profundas para a América Latina, onde os EUA buscam reduzir a influência chinesa em países como Panamá, Argentina, Venezuela e Cuba.
Em 17 de dezembro de 2025, senadores dos EUA introduziram a Lei SAFE para combater fraudes em criptomoedas, aprimorando a colaboração entre Tesouro, agências de aplicação da lei e setor privado. A medida surge após perdas de US$ 9,3 bilhões em fraudes cripto em 2024.
Paradoxalmente, a SEC reduziu sua fiscalização sobre criptoativos, dispensando ou pausando quase 60% dos casos desde janeiro de 2025. Ações contra empresas como Ripple e Binance foram desaceleradas, sinalizando uma mudança de postura na administração Trump.
Paul Atkins, presidente da SEC indicado por Trump, afirmou em 15 de dezembro que criptomoedas e blockchain podem ser “ferramentas poderosas de vigilância” para monitorar transações, mas enfatizou a necessidade de preservar privacidade contra abusos governamentais.
A SEC organizou o Financial Regulation and Privacy Roundtable via sua Crypto Assets and Cyber Unit, sinalizando abertura a tecnologias de privacidade auditáveis para cumprir regras anti-lavagem (AML). Essa postura impulsionou tokens focados em privacidade como NIGHT.
Avanços recentes incluem a aprovação do segundo ETP de índice cripto (Bitwise 10 Crypto Index Fund) na NYSE Arca e a licença da CFTC para prediction markets da Gemini. No entanto, o projeto de lei sobre estrutura de mercado cripto foi adiado para revisão no Senado em 2026, frustrando parte da indústria.
O cenário atual reflete a convergência de múltiplas crises: volatilidade nos mercados de criptomoedas, pressão econômica em mercados emergentes, reconfiguração geopolítica global e incerteza regulatória.
A queda do Bitcoin coincide com indefinição sobre política monetária nos EUA e Brasil, enquanto a geopolítica redefine cadeias de suprimentos e dependências econômicas. A China consolida seu domínio em recursos estratégicos, forçando os EUA a repensar sua estratégia de contenção.
Para investidores e formuladores de políticas, o momento exige cautela. A volatilidade deve persistir enquanto mercados precificam as implicações da nova administração Trump, das tensões comerciais e da reconfiguração geopolítica global.
Observadores do mercado acompanham atentamente:
O mercado de criptomoedas permanece como barômetro sensível dessas dinâmicas globais, refletindo em tempo real as incertezas e oportunidades que emergem dessa nova ordem econômica e geopolítica.

